Entenda o que diz a lei na prática
Quando uma família tem uma criança autista ou outra pessoa com deficiência em situação de vulnerabilidade, cada fonte de renda faz diferença. E aí surge a dúvida: a criança já recebe pensão por morte, mas também teria direito ao BPC, é possível receber os dois benefícios ao mesmo tempo?
Neste artigo, eu explico de forma simples a regra de não acumulação de benefícios, principalmente entre pensão por morte e BPC, e como isso funciona na prática para famílias atípicas.
O Benefício de Prestação Continuada, conhecido como BPC ou BPC LOAS, é um benefício assistencial que garante um salário mínimo mensal à pessoa idosa com 65 anos ou mais e à pessoa com deficiência de qualquer idade, inclusive autistas, que estejam em situação de vulnerabilidade econômica.
Por ser um benefício assistencial, o BPC não exige contribuição ao INSS, mas exige:
O ponto central para o nosso tema é que o BPC não pode ser acumulado, pelo mesmo beneficiário, com outro benefício de aposentadoria, pensão por morte ou benefício previdenciário em geral, salvo algumas exceções bem específicas, como pensões indenizatórias e assistência médica.
Em linguagem simples, a regra é:
a mesma pessoa não pode receber BPC e, ao mesmo tempo, pensão por morte, aposentadoria ou outro benefício previdenciário.
A pensão por morte é um benefício previdenciário pago aos dependentes de quem falece, desde que a pessoa que morreu fosse segurada da Previdência Social ou de um regime próprio.
Na prática, funciona assim:
A pensão por morte:
Já o BPC:
Essa diferença de natureza é justamente um dos motivos pelos quais a lei proíbe que a mesma pessoa some BPC e pensão por morte ao mesmo tempo.
A lógica da não acumulação é a seguinte:
Por isso, a legislação assistencial proíbe expressamente que o titular do BPC acumule esse benefício com outro benefício da seguridade social ou de outro regime, como aposentadoria, pensão por morte ou auxílio por incapacidade, salvo algumas situações excepcionais e específicas.
Na prática, isso significa:
Quando, por algum motivo, dois benefícios incompatíveis chegam a ser concedidos, a regra é de escolha pelo benefício mais vantajoso, e em muitas situações os valores recebidos podem ser compensados mês a mês, principalmente quando há decisão judicial.
Aqui está um ponto que gera muita confusão e preocupação nas famílias: uma coisa é falar da mesma pessoa, outra é falar da mesma família.
A vedação de acumular BPC com pensão por morte vale para o mesmo titular, a mesma pessoa, o mesmo CPF. Isso não significa que em uma família só possa existir um benefício.Alguns exemplos ajudam:
No caso que motivou este artigo:
Ou seja, a pergunta correta não é apenas “a família já recebe pensão por morte?”, mas “quem recebe? quem é o titular?”.
Em muitos casos, a pensão por morte recebida pela criança ou pela pessoa com deficiência é de valor muito baixo. Nesse contexto, a família começa a se perguntar:
será que não seria melhor o BPC, já que ele sempre corresponde a um salário mínimo?
Aqui é importante separar duas ideias:
Por outro lado, essa troca exige cautela:
Por isso, antes de qualquer pedido de renúncia, de troca ou de discussão judicial, o ideal é:
Na prática, em grande parte dos casos que envolvem crianças autistas com pensão por morte, a solução mais segura costuma ser:
Alguns cuidados ajudam bastante na hora de pensar em BPC e pensão por morte:
Uma pergunta que vale ouro é:
qual combinação de benefícios protege melhor essa família hoje e daqui a alguns anos?
A resposta nem sempre é óbvia e, por isso, a análise técnica faz tanta diferença.
A regra de não acumulação entre BPC e pensão por morte não existe para punir famílias, mas para delimitar o papel de cada tipo de benefício: o previdenciário, como a pensão, vinculado à contribuição; e o assistencial, como o BPC, voltado a quem não tem proteção previdenciária suficiente.
Para famílias atípicas, com crianças autistas ou pessoas com deficiência, isso tudo aparece em situações muito concretas: falta de renda, contas que não fecham, terapias essenciais, laudos, remédios, deslocamentos. Por isso, conhecer essa regra e entender como ela se aplica na prática é fundamental para tomar decisões mais seguras.
Se você tem um filho autista ou outro familiar com deficiência e está perdida entre BPC, pensão por morte, benefício previdenciário e renda da família, você não precisa resolver isso sozinha.
Podemos analisar juntos:
Envie uma mensagem no WhatsApp para agendar uma consulta previdenciária voltada para pessoas com deficiência e famílias atípicas.
Atendimento em Itajaí SC e em todo o Brasil, especialista em Direito Previdenciário, da Saúde e Direitos dos Autistas.
Mãe atípica na defesa dos autistas. 💙